julho 04, 2006

Como o Brasil também perdeu a Copa fora de campo

Antonio Prada, Direto de Munique


Bertold Brecht já proclamava: triste o país que precisa de heróis. O Brasil ainda precisa deles, infelizmente, e não só na vitória. No meio de tantas ilações, ataques, defesas, fugas e caças às bruxas neste pós-Copa prematuro é preciso abandonar o close, sob o risco de ser arrastado pela turba emocionada. E errar tão feio quanto o nosso futebol, não só dentro do campo como fora dele.
Ninguém gostou de como nos comportamos na Copa. Ninguém gostou da derrota para a França. Aliás, ninguém gostou de como perdemos para a França. Perdemos sem jogar. Perdemos sem lutar, como disse, surpreso, um jornalista francês nesta manhã em Munique. Um treinador sem comando? Um time de estrelas sem garra? Um time de estrelas sem união? Jogadores milionários que se sentem tão auto-suficientes que negligenciam desafios?
Mas pior do que a derrota, que o brasileiro historicamente rejeita em qualquer circunstância, que os eventuais erros do Parreira, que a eventual ineficiência e displicência de alguns jogadores, são as atitudes. O time saiu de campo contra a França desunido. Ignorou a torcida no estádio. Deu as costas para o orgulho nacional. Se comportou como uma seleção privada. Saiu pela porta dos fundos.
Nas entrevistas, jogadores (alguns) e dirigentes, ao mesmo tempo que evitavam falar de culpas e rejeitavam a caça às bruxas, atacaram os detratores, como se fossem todos. Chegaram a insinuar que a torcida não tem opinião própria e é influenciada pelo bumbo da mídia, como se futebol fosse de domínio das letras.
A seleção é dispensada após jogo. Volta para o Brasil quem quiser. O que isso significa? Uns vão dar a cara para bater, outros não. Foi o que aconteceu nesta segunda-feira com Cafu e com Parreira, para falar apenas de dois dos principais personagens desta seleção. Perder faz parte do jogo.
Encarar a torcida, agir como grupo, receber as críticas, admitir os erros ou pelo menos discuti-los, também. Enquanto Cafu era xingado, execrado e encurralado pelos microfones no aeroporto de Guarulhos, e Parreira tentava "escapar" da revolta no Aeroporto Internacional do Rio e depois encarou sua terceira entrevista coletiva em 36 horas, Ronaldinho e Adriano certamente descansavam depois de uma noitada daquelas com amigos em Barcelona que terminou às 5h.
Mas não é tudo: enquanto a carniça fede, urubus do mundo do futebol aproveitam para desopilar o ódio ou a mágoa daqueles que estão largados no chão.
A vida continua, como ela é, ao menos no Brasil e o futebol também.

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