Do site UOL:
"Era Nuzman" incha delegações, mas vê número de medalhistas cairBruno Doro e Claudia Andrade
A Era Nuzman do Comitê Olímpico Brasileiro chega, em agosto, em sua quarta edição das Olimpíadas convivendo com uma tendência incômoda. O período apresenta delegações olímpicas com recordes de gigantismo, sempre superando os 200 atletas, mas mostra aproveitamento menor a cada quatro anos.
Em Atlanta-1996, por exemplo, o país teve 64 medalhas. Em uma delegação de 225 atletas, recorde na época, o aproveitamento foi de 28%, o melhor do Brasil na história.
Nesse caso, foi considerada uma medalha por cada atleta que subia ao pódio - o futebol masculino, bronze, por exemplo, soma 18 medalhas nessa conta, contra apenas uma do velejador Robert Scheidt, ouro na classe Laser. No quadro geral, que considera uma medalha por prova, porém, o Brasil terminou com 15 pódios, na 25ª posição.
O desempenho nos EUA é melhor até mesmo do que o de Atenas-2004, considerada a melhor edição para Brasil em termos absolutos. Na Grécia, o quadro geral aponta cinco medalhas de ouro brasileiras e a 16ª posição. Mas apenas 41 esportistas voltaram ao país laureados, em um aproveitamento de 16,5% da delegação de 247 atletas - recorde na época.
Os números podem não ter validade para a classificação final, mas mostram que, nos últimos anos, o Brasil privilegia muito mais a quantidade do que a qualidade nas Olimpíadas. Dirigentes, inclusive, fazem sempre questão de destacar a marca megalomaníaca de atletas. Em Pequim-2008, a missão nacional novamente deve quebrar recorde de participantes, com 275 vagas conquistadas até agora.
"O esporte brasileiro já venceu, já conquistou muito antes mesmo do início dos Jogos de Pequim pelo recorde de atletas, recorde de modalidades e recorde de mulheres que vão participar. São números incontestáveis", diz o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
Esse discurso, porém, pode encontrar problemas para Pequim. Com um ciclo olímpico inteiro bancado pela Lei Piva, que dá parte da arrecadação das loterias para o esporte, a cobrança por uma melhora no aproveitamento já começa a ser ouvida.
Para o ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, por exemplo, o número maior de atletas deve significar um número maior de medalhas. "O Nuzman não gosta de comentar número de medalhas, mas posso dizer que acredito que nós estaremos em um número maior de finais, conquistaremos mais medalhas e mais medalhas de ouro, e vamos ouvir o hino nacional e ver a bandeira brasileira subindo mais vezes ao pódio".
Questionado sobre a relação quantidade x qualidade, Nuzman defendeu delegações maiores, mesmo com novatos que vão aos Jogos com poucas chances de chegar ao pódio. "Ninguém é campeão olímpico da noite para o dia, como ninguém aprende a ler da noite para o dia. É um processo. Esta é uma fase que não dá para pular, eles têm que passar por isso, pela experiência de ir a uma Olimpíada."
Já sobre a validade de "inflar" o grupo com novatos, o chefe da delegação brasileira, Marcus Vinícius Freire, também defendeu a opção do COB. "Vale 100%, e eu digo isso de cadeira, porque como outros, também precisei de um empurrão antes de chegar até a medalha (foi prata com a seleção de vôlei em Los Angeles-1984)."
A política, porém, esbarra no exemplo de maior sucesso do esporte olímpico latino-americano. Cuba, potência dos Jogos, não costuma montar delegações grandes. Vão apenas os que têm chance. O aproveitamento relativo mostra isso. Em Atenas-2004, 152 atletas cubanos foram para a Grécia e 62 deles chegaram ao pódio - o número conta com o ouro no beisebol e o bronze no vôlei feminino. Com delegação compacta, Cuba deixou Atenas com 40% de aproveitamento.
"Nós somos diferentes de Cuba, que corta todo mundo que não tiver chance de medalha. Para a gente é importante dar essa oportunidade para o atleta. Não levamos convidados, mas seria tirar o direito de um atleta que conseguiu o índice B deixá-lo de fora. Eu tenho um filho de 13 anos que está começando a jogar vôlei e ficaria muito chateado se ele fosse cortado mesmo estando dentro da regra", afirmou Marcus Vinícius.
Freire usou como exemplo Rosângela Conceição, primeira mulher do país a disputar a luta livre em Olimpíadas e com chances remotas de pódio. "Para a área técnica do COB, qualidade não é medalha. É abrir o leque. Para a atleta da luta, o primeiro passo é ir para a Olimpíada. Daqui a quatro anos pode melhorar o resultado, daqui a oito, chegar à final, daqui a 12, disputar medalha e daqui a 16 levar o ouro. É um degrau por vez que tem que ir cumprindo".
APROVEITAMENTO OLÍMPICO DO BRASIL
Atletas Pódios* Medalhas** Aprov.
Antuérpia - 20 29 3 7 24%
Paris-24 11 0 0 0
Los Angeles-32 58 0 0 0
Berlim-36 95 0 0 0
Londres-48 94 1 12 12
Helsinque-52 108 3 3 2
Melbourne-56 48 1 1 2
Roma-60 81 2 13 16
Tóquio-64 68 1 12 17
México-68 84 3 4 4
Munique-72 89 2 2 2
Montréal-76 93 2 3 3
Moscou-80 109 4 9 8
Los Angeles-84 151 8 38 25
Seul-88 170 6 25 14
Barcelona-92 197 3 14 7
Atlanta-96 225 15 64 28
Sydney-00 205 12 47 23
Atenas-04 247 10 41 16,5
* Contagem de medalhas tradicional ** Soma dos medalhistas, contando uma medalha para cada atleta que sobe ao pódio, incluindo cada membro de equipes em esportes coletivos *** Em Amsterdã-28, o Brasil não participou
Oras, por que o espanto? Num país que em todos os setores o governo privilegia muito mais a QUANTIDADE do que a QUALIDADE. Quer melhor exemplo do que nossa Educação, onde o governo se vangloria da quantidade de alunos nas escolas de ensino fundamental e médio, quando na verdade esses alunos saem mal sabendo escrever os próprios nomes. Não era de se esperar coisa diferente no esporte, né!
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